sábado, maio 22, 2004

Noites Cariocas


Nano,23 anos de idade, era fisicamente o mais carioca dos cariocas, apesar da sua nacionalidade francesa, tantas vezes por si discutida, assim como era o mais mitra dos mitras, lutador, safado e apaixonado. Mulato, nem magro, nem gordo, nem alto, nem baixo, apenas mais um no meio de tantos. Os seus olhos, grandes e negros junto com o seu sinal acima da boca, davam-lhe o seu sucesso relativo entre as mulheres. Tinha como grande defeito a timididez na hora de se aproximar das suas futuras conquistas. Porem por vezes este medo era ultrapassado, por ele ou por elas, de forma a que assim foi tendo algumas experiencias marcantes na busca do amor. 23 anos aproveitados para conhecer um pouco de tudo na vida.

Estava no Rio de Janeiro a fugir da vida que adorava em Lisboa e à procura de mais do mesmo noutro lugar e com outra gente. Noites sem fim mas sem nada para contar e dias que serviam de ligação entre noites, sendo gastos para dormir, estudar, fumar e comprar. Porem as drogas, as mulheres e a bebida seriam o seu fim se não fossem interrompidos ou assumidos como a sua opção de vida.

As suas noites no Rio eram passadas a chorar os seus males, entre uma ganza e outra Nano jogava cartas e ouvia sons do seu passado. Chorava. Para se enganar via muita televisão e furava cariocas, não que se arrependesse, mas não eram as suas noites no Bairro Alto.

Foi assim que decidiu encontrar o seu verdadeiro amor. Durante meses saiu por bares, festas, restaurantes, raves e muita bohemia. Conheceu muita gente. Nada o deixou feliz. A verdade é que já sabia à muito que estava a procura no lugar errado, Madrid não era ali, nem de noite, nem de dia.

Começou assim uma nova fase, fechou-se em casa. Decorou a sua casa a seu gosto, comprou comidas, bebidas, aprendeu a cozinhar e descobriu a solidão. Noites interminaveis, dias intediantes, o desespero. O sofá tinha a marca do seu rabo assim como a televisão o seu dedo marcado. Passou semanas fechado em casa a pensar na vida, nada concluiu a não ser que o tédio não traz prazer. Decidiu muitas coisas, trabalhar, lutar pela vida, fazer ginastica, ler, mas nenhuma delas cumpriu. O seu peso de drogado em construção foi perdido, o que foi apenas mais uma dor com a qual teve que lidar. O Rio estava a trata-lo mal, nem saude, nem bohemia á altura das promessas. Um amor mal resolvido do seu passado o presseguia, isso não deixa a felicidade prevalecer.

Filmes de segunda e ideias de terceira eram tudo o que ele tinha, até decidir que a solução era ser um artista incomprendido. Nisto ele teve bastante sucesso. Pintou quadros, escreveu poesia, cantou as suas dores e como era parte da personagem, ninguem ouviu, leu ou viu o que produziu, talvez um dia...

Então ao ver o seu sucesso na mais estranha de suas buscas não cessou a sua arte, a imcomprensão é um ópio muito estranho, e como todas as drogas não dava vontade de parar. Escreveu historias, contos, poesias, e frases. Pintou quadros, desenhos, esboços e rabiscos. Cantou blues, rock, reague e até pop. Inspiração só deus sabe de onde a ia buscar, mas a verdade é que não parou, produzir algo é sempre um estimulo para a continuação da vida.

Após ums anos começou a questionar a sua razão de estar no Rio. Então decidiu ver praias, turistas, putas, putos, miudas e morros. Descobriu que quanto mais conhecia mais criava, a cultura ajuda a inspiração. Decidiu então que tinha que viver em algum lugar e de algo.

Alugou um pequeno apartamento em Copacabana, conheceu a fundo as suas ruas, pessoas e custumes. Passsou então a gostar de onde estava, mas algo faltava para estar em casa. Decidiu trazer esse algo até ele. Falou com um amigo seu arquitecto e mandou fazer uma oferta à sua paixão no escritório desse seu amigo. Esta sem saber onde se metia aceitou a oferta, o dinheiro era bom.

Ao chegar a Rio, Victória, argentina, residente em Madrid, loira, linda e sorridente pediu a Nano abrigo até encontrar um lugar para se hospedar definitivamente. Nano aceitou e riu muito por dentro, a felicidade veio a ele por seus proprios meios.

Sairam durante algumas noites, ela caiu nos seus braços e deixou que ele reafirmasse o seu amor por ela mais uma vez. Ela negou que tal passa-se por sua mente, mas continou a aproveitar o seu amor, o seu sexo e a sua vida. Com o tempo entendeu que o problema dele era apenas os seus vicios. Ela só se aprecebeu disso quando ele deixou a maior parte deles.

Como não tinham deixado de amar-se durante este longo periodo ela com muito custo pessoal asssumiu perante Nano e o mundo que o amava. Como não poderia deixar de ser foi então que Nano fez o que mais tradicional nestes casos, recusou ser usado e amado por Victória. Continuou a seu lado, mas o vazio só aumentou.

Decidiu então que para ser um verdadeiro artista incomprendido tinha que estudar algo. Inscreveu-se na faculdade de letras onde no tempo record de dois anos se formou com honras e distinção, sempre com ajuda de Victória, sempre muito apaixonada. No ultimo mês lá conheceu uma rapariga carioca com quem se envolveu. Joana era morena, esfusiante, muito “caliente” e mãe de uma linda menina de tres anos. Durante um ano namoraram, enquanto Victória desesperava e via o então amor da sua vida se perder nos braços de outra mulher.

Nano casou-se com Joana, foi morar com ela para Salvador e deixou o seu apartamento para Victória morar.

Em Salvador não foi feliz, nem com Joana, nem com os seus amigos de infancia, a vida tinha mudado muito o que Nano era desde esse tempo. Escreveu sobre isso e por primeira vez na vida foi lido e lido por 500,000 pessoas. Tirando proveito da sua nova fortuna foi ao Rio encontrar com o seu amor de sempre, Victória. O reencontro foi dificil pois Victória estava a namorar com um carioca grande e mau. O pitboy foi gradualmente trocado por Nano. Até que um dia Victória recebeu de Nano uma proposta que não recusou, ir morar em Madrid, abrir com ele um disco-bar e comprar com o que restasse do dinheiro do livro um apartamento e uma maquina de escrever para que Nano continuasse a escrever e quem sabe continuar uma obra que estva já a crescer, assim como o amor deles.

Soube que tiveram dois filhos, que Victória abriu um escritório de arquitectura com amigas e que Nano recebeu o prémio Camões pelo seu sexto livro. Parece que o titulo deste livro é : Noites Cariocas.

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